Zanatti

Foi necessária alguma reflexão para decidir a quem dedicar a 1ª “biografia” deste blog. “Biografia” entre aspas porque o que vou publicar nesta secção não serão as típicas e formais descrições da vida de uma pessoa às quais já estamos habituadas. Para isso basta pesquisar o nome da celebridade na Wikipedia. Tentarei acrescentar sempre algo mais, mantendo, claro, informação fidedigna sobre os feitos e etapas da vida das pessoas em questão.

A minha escolha para esta primeira “biografia” recaiu sobre a atriz / apresentadora / escritora Ana Zanatti por vários motivos. Em primeiro lugar pelo seu papel ativo, ainda que recatado, na luta pelos direitos da comunidade LGBT. Em segundo lugar porque aprecio o seu trabalho nas três vertentes a que se dedica e que anteriormente mencionei. E, finalmente, em terceiro lugar por um motivo mais pessoal: entre os meus 1 e 4 anos de idade fui obrigada a passar muito tempo no IPO de Lisboa por motivos de saúde e cruzei-me várias vezes com a Ana Zanatti no elevador do hospital – isto, segundo contam os meus pais, fazia as alegrias dos meus dias (não me perguntem porque é que ela passava tempo no IPO porque não sei a resposta e mesmo que soubesse não seria correto expô-la aqui).

A grande Ana Maria Zanatti Olival, a quem todos chamam Ana Zanatti, nasceu em Lisboa, no dia 26 de Junho de 1949. Tem agora 66 aninhos e só o especifico porque na minha opinião está bastante bem conservada, logo, revelar a sua idade acaba por dignificá-la ainda mais.

Quanto à sua vida académica frequentou o Colégio do Sagrado Coração de Maria de Lisboa, mais tarde o Liceu Pedro Nunes e, seguidamente, o curso de Filologia Românica na Faculdade de Letras de Lisboa. No entanto, abandonou este curso para se dedicar ao Curso de Teatro do Conservatório Nacional. Fez muitíssimo bem.

Profissionalmente falando, estreou-se em 1968 quer no mundo do cinema, quer nos palcos do Teatro da Trindade, quer nos cenários da RTP, onde permaneceu durante 26 anos enquanto apresentadora. Ao longo de 12 anos foi também a voz institucional do Canal Odisseia.

Em 1980 foi premiada com o Troféu Nova Gente (prémio Revelação no Teatro de Revista) e com o Prémio TV Guia (para Apresentadora Mais Popular). Em 1982 destacam-se dois grandes marcos: a participação no filme O Lugar do Morto, de António Pedro Vasconcelos, e o papel de Madalena Andrade na primeira telenovela portuguesa, Vila Faia.

Nos anos que se seguiram participou em inúmeras telenovelas e outras tantas séries televisivas (quem não se lembra do cómico quarteto Ana Zanatti + Nicolau Breyner + Rosa do Canto + Fernando Mendes?), fez dobragens, escreveu letras para a voz dos mais diversos cantores e publicou vários romances, contos e poesias da sua autoria. Pertenceu ainda a diferentes painéis de jurados, nomeadamente no Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa (atual Queer Lisboa), em 2006.

Em 2009, participou na sessão de apresentação pública do primeiro movimento da sociedade civil de defesa dos direitos dos homossexuais pelo casamento, no Cinema São Jorge, em Lisboa. Foi aí que assumiu publicamente a sua homossexualidade, declarando “Estou a reclamar os meus direitos como cidadã que quer ou não casar” e frisando que  não aceita perder direitos por fazer parte de uma minoria.

Também em 2009 recebeu o Prémio da Rede Ex-Aequo pela condução do programa “Sete Palmos de Testa”. Em 2011 foi galardoada com o Prémio Arco-Íris, pela Associação ILGA Portugal, em reconhecimento do seu contributo na luta contra a discriminação e a homofobia. Em 2012 voltou a ganhar o Prémio da Rede Ex-Aequo pela sua obra “Teodorico e as Mães Cegonhas”, em que pretendeu transmitir a ideia de que “o que mais conta na vida familiar de uma criança é o amor”.

Atualmente podemos apreciar o seu trabalho e a sua bela imagem no pequeno ecrã todas as sextas-feiras à noite na RTP1, na série Terapia. Interpreta o papel de Graça, uma psicoterapeuta experiente, astuta, super perspicaz e matreira, que tem como principal função deixar Mário (a personagem principal da série e paciente de Graça) atormentado com os seus próprios pensamentos, tentando ao mesmo tempo ajudá-lo a resolver os conflitos que o afrontam.

Julgo que ficou claro o motivo para ser Ana Zanatti o alvo da primeira “biografia” deste blog. Resta-me deixar-lhe alguns agradecimentos. Obrigada Zanatti: por lutares por um país mais justo para a população homossexual – um país que, de uma vez por todas, compreenda que pessoas iguais merecem direitos iguais; por marcares o cinema, teatro, televisão e literatura em Portugal; por seres um exemplo a seguir pelos novos artistas que diariamente lutam pela construção da sua própria carreira; pelo sorriso meigo que me dirigiste sempre que nos cruzámos naqueles elevadores cinzentos que marcaram três anos da minha infância – por mais batalhas que estivesses a travar nessa altura conseguiste manter uma presença que 20 anos depois ainda recordo com carinho. Obrigada Zanatti e desculpa ter-te tratado por tu neste último parágrafo mas não o consegui evitar.

Jaff, Lisboa, 14 de fevereiro de 2016.